quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Até quando?

É lastimável o que acontece ao Vale dos Dinossauros, nome que populariza um dos mais importantes sítios paleontológicos do mundo. Estivessem em algum ponto ermo da Europa ou Estados Unidos, os rastros que répteis enormes imprimiram há mais de 100 milhões de anos no leito petrificado do Rio do Peixe estariam a pleno serviço da pesquisa científica e do turismo, com suas oportunidades de emprego e renda.
Ocorre que essas pegadas jazem no sertão paraibano, onde se fazem até mais necessárias, em vista das aplicações aqui aludidas. Uma das trilhas é catalogada entre as mais extensas do planeta, sem que isso desperte as atenções daqueles pelos quais deveriam ser preservadas e dispostas ao alcance de visitantes.
Desprezar o Vale dos Dinossauros significa trair os melhores interesses de um povo pobre, sofrido e cada vez mais desesperançado tanto da competência administrativa quanto da boa fé daqueles que lhe pedem o voto, em épocas como essa que agora se aproxima.
Antes que o Século 19 terminasse, já um agricultor de Sousa proclamava aos quatro ventos a descoberta de algum tipo gigantesco de ema. Por volta de 1924, a notícia chegava ao conhecimento de Luciano Jacques de Morais, um engenheiro de minas a serviço do antigo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
Conta-se que foi dele a iniciativa de remeter moldes dessas pegadas para paleontólogos norte-americanos, todavia, sem qualquer resposta. Ainda na década de 1920, o europeu Fredricke Von Ruene confirmava a origem pré-histórica daquilo que ficava à mostra no rio, nos períodos de seca.
Contudo, a fama internacional do sítio fez-se com o paleontólogo Giuseppe Leonardi, de origem italiana. Para o desenvolvimento de suas pesquisas ele não se cansou de bancar, do próprio bolso, o custo de sucessivas viagens a Sousa. Assinale-se que teve a companhia invariável do sousense Robson Marques, uma espécie de guardião do parque. Vem a ser este último bisneto daquele que em 1897, sem medo do ridículo, chamava a atenção de todos para as “emas gigantes”.
 É penoso observar que as ações mais efetivas contra a perda de tão importante patrimônio decorrem, ao longo dos anos, do esforço pessoal, quase isolado, de uns poucos e admiráveis seres humanos abnegados e renitentes.
Diga-se que a providência oficial, historicamente escassa, torna-se cada vez mais necessária diante dos estragos que o avanço do tempo ocasiona às trilhas ainda sujeitas aos humores do rio, que as encobre em dias de cheia. Assinale-se, ainda, que não basta culpar a Prefeitura pelo indecoroso abandono. Os governos federal e estadual são, igualmente, parceiros da mesma relapsia. Até quando?

Editorial

Nenhum comentário:

Postar um comentário