domingo, 3 de fevereiro de 2013

“Estudante de São José dos Campos-SP foi aprovado para Harvard”


GUSTAVO HADDAD BRAGA Estudante, 17 anos. Mora em São José dos Campos, em São Paulo. Já ganhou mais de 50 medalhas em olimpíadas estudantis. Foi aprovado na Universidade de São Paulo, no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, no Instituto Militar de Engenha (Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)
A culpada de tudo foi a professora Soraya, que me dava aulas de matemática na 6ª série em São José dos Campos, interior de São Paulo. Ela percebeu que eu aprendia rápido e me incentivou a participar da minha primeira olimpíada. Apesar de ser voltada para alunos mais velhos, das 7ª e 8ª séries, levei o ouro para casa. Por causa desses resultados, ganhei uma bolsa integral para o ensino médio no Colégio Objetivo. Participei de mais de 50 olimpíadas, incluindo sete internacionais, de matemática, física, química e até de linguística. Eu, que nunca tinha viajado para o exterior, pude conhecer países como Coreia do Sul, Azerbaijão, China e Tailândia.
Durante a premiação de uma de minhas primeiras olimpíadas, o pai de um aluno subiu ao palco e leu a carta de admissão do filho no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. O menino saltou da cadeira e eles se abraçaram, chorando. A cena foi marcante para mim. Nesse dia, descobri a possibilidade de estudar fora. Comecei a me preparar desde a 7ª série para meu sonho: a Universidade Harvard.
Meus pais são engenheiros e sempre me incentivaram, desde pequeno, a buscar respostas. Ainda lembro das explicações sobre o que é a chuva e o trovão. Isso contribuiu para eu gostar de buscar o conhecimento. Adoro estudar, mas sempre tive uma vida social equilibrada. Durante a semana, ficava estudando de cinco a 11 horas por dia depois das aulas. Só fazia intervalo para assistir aos seriados House Law & order. Nos fins de semana, curtia jogar bola, viajar, surfar, ir ao cinema e a baladas. Nunca namorei sério, mas já fiquei com algumas meninas.
Para memorizar melhor os conteúdos, criava associações entre as disciplinas. Quando estudava as teorias de um físico, pensava no momento histórico em que ele viveu. Com essa interdisciplinaridade, aprendi que a matemática não se resume a números, a biologia a nomes e a história a datas. Também ensaiava dar aulas sozinho no quarto, para organizar o raciocínio. Fiz um curso de leitura dinâmica que aumentou minha velocidade de absorção das matérias.
A avaliação das universidades americanas é completamente diferente das nossas. Lá tudo conta: hobbies, viagens, opiniões e recomendações de professores, além das notas das provas. Eles gostam de pessoas versáteis. Tive de fazer uma entrevista em inglês com um gestor da universidade por Skype. O contato com estudantes de diversos países nas olimpíadas me ajudou a praticar o inglês. Usei provas anteriores de Harvard e livros técnicos para estudar. Nos dois dias de provas escritas, feitas aqui no Brasil, são cobradas questões de inglês, lógica e outras três disciplinas escolhidas pelo aluno. Na primeira parte fiz 2.350 pontos, de um total de 2.400. Gabaritei a segunda. Fui aprovado. Vou tentar uma bolsa de estudos. Setenta por cento dos alunos conseguem algum desconto.
Passei também no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), no Instituto Militar de Engenharia (IME), além da medicina pela Universidade de São Paulo (USP). Como as aulas nos Estados Unidos só começam no segundo semestre, por enquanto vou estudar na USP. Se gostar, medicina pode ser minha opção em Harvard, mas a princípio estou entre física e engenharia. Como nunca fui aos EUA, agora quero aproveitar a viagem para conhecer a Disney com minha família.
GUSTAVO HADDAD BRAGA (EM DEPOIMENTO A NATHALIA TAVOLIERI - Época)

Pela primeira vez, um navio brasileiro será comandado por duas mulheres


CONTROLE Vanessa e Hildelene no petroleiro Rômulo Almeida. Calma em situações tensas  (Foto: Berg Silva/ÉPOCA)

Todos os olhares do estaleiro estavam voltados para ela. Aqui e ali, Hildelene entreouvia comentários jocosos em inglês. Não era nada comum uma mulher dando ordens a homens fortões num país majoritariamente muçulmano como o Bahrein, no Golfo Pérsico. A cena ficou pior aos olhos estrangeiros porque a mulher tinha apenas 1,50 metro de altura, fala mansa e exercia o segundo cargo mais importante dentro de um navio, o de imediato. Para contornar a situação, Hildelene Lobato Bahia, então com 35 anos, fez o que já estava acostumada a fazer: impôs respeito. Empertigou-se, aumentou sutilmente o tom da voz e, firme, mostrou que sabia o que estava fazendo. “Quando viram que eu era qualificada, me aceitaram”, diz ela sobre o episódio de quatro anos atrás, durante atracação para reparos no navio.

 Hildelene se tornou a primeira comandante mulher da Marinha Mercante no Brasil em 2009, a bordo do navio Carangola. Agora, aos 39 anos, o desafio será assumir o comando do petroleiro Rômulo Almeida, da Transpetro, que partirá no dia 17. Na empreitada, será auxiliada por outra mulher, Vanessa Cunha, de 30 anos, que fará as vezes de imediata. Será a primeira vez que um navio brasileiro terá duas mulheres no comando.

Hildelene é paraense. Vanessa, carioca. Ambas são casadas com homens do mar – que de vez em quando viajam junto para que suas amadas matem as saudades.

A temporada no mar é longa. O time fica embarcado 90 dias. Os turnos são de 12 horas, período em que Hildelene e Vanessa se alternarão na chefia. O esquema muda se a situação for tensa – em ocasiões de risco, elas terão de atuar juntas. Há cinco anos, Vanessa enfrentou um incêndio na praça de máquinas de um navio. “Uns gritavam, outros tentavam apagar o fogo de qualquer jeito. Fico mais calma em situações tensas”, diz Vanessa. “Acordei no dia seguinte com o corpo doendo de tanto carregar extintores.”

À medida que o rótulo de desbravadoras perde a força, o que se evidencia na relação mulher-chefe e homens-subordinados são diferenças sutis no dia a dia. “Com imediatos homens eles não se queixam. Comigo, reclamam que estão doentes, que isso, que aquilo, só falta pedir colo”, afirma Vanessa, dando uma risada. Raimundo Gomes Pereira, chefe de máquinas do Rômulo Almeida, equilibra a cúpula feminina. “Nunca tive problemas com mulheres na Marinha”, afirma Raimundo, de 54 anos, dos quais 30 no mar.

MARINA NAVARRO LINS - Época