quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

‘O inimputável’


PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUINTA-FEIRA
Eis a palavra de ordem: Luiz Inácio Lula da Silva paira acima da Justiça, e o seu detrator, o publicitário Marcos Valério, é um desqualificado. Desde que, na semana passada, este jornal revelou que o operador do mensalão, em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em setembro último, acusou o ex-presidente de ter aprovado o esquema de compra de votos de deputados e de tirar uma casquinha da dinheirama que correu solta à época do escândalo, o apparat petista e os políticos governistas apressaram-se a fazer expressão corporal de santa ira: “Onde já se viu?!”
Apanhado em Paris pela notícia da denúncia, Lula limitou-se a dizer que era tudo mentira, alegou indisposição para não comparecer a um jantar de gala oferecido pelo presidente François Hollande à colega brasileira Dilma Rousseff e, no dia seguinte, fugiu da imprensa, entrando e saindo dos recintos pela porta dos fundos─ algo não propriamente honroso para um ex-chefe de Estado que se tem em altíssima conta. Em seguida, usando como porta-voz o secretário geral da Presidência, Gilberto Carvalho, declarou-se “indignado”. Outros ministros também se manifestaram. Como nem por isso as acusações de Valério se desmancharam no ar, nem o PT ocupou as praças para fulminá-las, os políticos tomaram para si a defesa do acusado.
Na terça-feira, um dia depois do término do julgamento do mensalão, oito governadores se abalaram a São Paulo em romaria de “solidariedade” a Lula, na sede do instituto que leva o seu nome. De seu lado, a bancada petista na Câmara dos Deputados promoveu na sala do café da Casa um ato pró-Lula. Foi um fracasso de bilheteria: poucos parlamentares da base aliada (e nenhum senador) atenderam ao chamado do líder do PT, Jilmar Tatto, para ouvir do líder do governo Dilma, Arlindo Chinaglia, que Lula “é (sic) o maior presidente do Brasil”, além de “patrimônio do País”, na emenda do peemedebista Henrique Eduardo Alves, que deve assumir o comando da Câmara em fevereiro. Não faltaram, naturalmente, os gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.
Já a reverência dos governadores ─ aparentemente, uma iniciativa do cearense Cid Gomes ─ transcorreu a portas fechadas. Havia três petistas, dois pessebistas (mas não Eduardo Campos, que se prepara para ser “o cara” em 2014 ou 2018), dois peemedebistas e um tucano, Teotônio Vilela Filho, de Alagoas, autodeclarado amigo de Lula. Seja lá o que tenham dito e ouvido no encontro, os seus comentários públicos seguiram estritamente a cartilha da intocabilidade de Lula, com as devidas variações pessoais. Agnelo Queiroz, do PT do Distrito Federal, beirou a apoplexia ao proclamar que Valério fez um “ataque vil, covarde, irresponsável e criminoso” a Lula. “Só quem confia em vigarista dessa ordem quer dar voz a isso.”
Não se trata, obviamente, de confiar em vigaristas, mas de respeitar os fatos. Valério procurou o Ministério Público ─ não vem ao caso por que ─ para fazer acusações graves a um ex-presidente e ainda figura central da política brasileira. Não divulgá-las seria compactuar com uma das partes, em detrimento do direito da sociedade à informação. Tudo mais é com a instituição que tomou o depoimento do gestor do mensalão, condenado a 40 anos. Ainda ontem, por sinal, o procurador-geral Roberto Gurgel, embora tenha mencionado o contraste entre as frequentes declarações “bombásticas” de Valério e os fatos apurados, prometeu examinar “em profundidade” e “rapidamente” as alegações envolvendo Lula.
Não poderia ser de outra forma. “Preservar” o ex-presidente, como prega o alagoano Teotônio Vilela Filho, porque ele tem “um grande serviço prestado ao Brasil”, é incompatível com o Estado Democrático de Direito. O que Lula fez pelo País pode ser aplaudido, criticado ou as duas coisas, nas proporções que se queiram. O que não pode é torná-lo literalmente inimputável. Dizer, por outro lado, como fez o cearense Cid Gomes, que Valério não foi “respeitoso com a figura do ex-presidente e com a memória do Brasil” põe a nu a renitente mentalidade que evoca a máxima atribuída ao ditador Getúlio Vargas: “Aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei”.
Augusto Nunes-Veja

Ricardo Lewandowski entra para a história com a conquista do título de HSV de 2012


A eleição do Homem sem Visão de 2012 foi marcada pela quebra de recordes aparentemente insuperáveis. A votação da enquete, por exemplo, mobilizou  12.891 leitores-eleitores, mais que o dobro dos 5.441 de 2011. O campeão Ricardo Lewandowski conquistou o título de HSV do Ano com 6.921 votos ─ quase seis vezes mais que os 1.126 que garantiram a vória de Márcio Thomaz Bastos na finalíssima do ano passado. MTB conseguiu 21% do eleitorado. Lewandowski atingiu impressionantes 54%.
Emocionado, o revisor do processo do mensalão dedicou o triunfo à ex-primeira-dama Marisa Letícia. “Isto vai para a minha querida vizinha, amiga da minha mãe e madrinha”, disse exibindo a medalha de ouro. Ainda desfrutando do direito de ir e vir, José Dirceu, José Genoino e Delubio Soares aplaudiram o ministro da defesa dos mensaleiros sentados na fila do gargarejo no trecho do discurso em que Lewandowski reconheceu que a absolvição da trinca contribuiu decisivamente para o histórico desempenho na finalíssima de 2012.
A medalha de prata obtida por Rui Falcão (11% do total de votos) transformou o presidente do PT em forte candidato ao título de 2013. “Se eu tivesse lançado um pouco antes a campanha do MEXEU COM LULA, MEXEU COMIGO, daria uma surra de relho no companheiro Lewandowski”, disse o vice-campeão. “Mas peço à militância que já se mobilize para me eleger no ano que vem”.
A acirrada disputa da medalha de bronze terminou com a vitória de José de Abreu, que teve uma vantagem de 8 votos sobre José Eduardo Cardozo e de 44 sobre Paulo Henrique Amorim. Os três conseguiram 9% do total. Também participaram da enquete Dias Toffoli (7%), Cândido Vaccarezza (1%) e Ana Arraes, lanterninha também com 1% dos votos.
Lewandowski entrou para a história como o quarto integrante da galeria onde sorriem para a posteridade os retratos de Dilma Rousseff (HSV de 2009), Franklin Martins (HSV de 2010) e Márcio Thomaz Bastos (HSV de 2011). Parabéns, ministro! Parabéns, leitores-eleitores! Mais uma vez, venceu o pior!
Augusto Nunes - Veja

Pequeno Dicionário da Novilíngua Lulista (Edição Consolidada - 105 verbetes)


reprodução-web
PUBLICADO EM 25 DE FEVEREIRO
A
aliança governista. Maior ajuntamento de partidos de aluguel do planeta.

aloprado. 1. Companheiro pilhado em flagrante durante a execução de bandalheiras concebidas para favorecer candidatos do PT ao governo de São Paulo. 2. Vigarista engajado em alguma campanha eleitoral de Aloízio Mercadante.
analfabetismo. 1. Deficiência que foi promovida a virtude no começo do século para apressar a chegada de um enviado da Divina Providência ao Palácio do Planalto. 2. Qualidade depreciada por reacionários preconceituosos, integrantes da elite golpista e louros de olhos azuis. 3. Marca de nascença da Primeira Mãe.
anistiado político. Companheiro que só divergiu do regime militar para investir na carreira de perseguido e garantir uma velhice confortável como pensionista do Bolsa Ditadura.
apagão. Blecaute ocorrido em lugares governados por adversários do PT. (Ver blecaute)
asilo político. Instrumento jurídico que beneficia todo terrorista condenado em outros países por crimes comuns ou atos de terrorismo.
B
base aliada. 1.Base alugada. 2. Bando formado por parlamentares de diferentes partidos que arrendam a fidelidade ao governo, por prazo determinado,  em troca de ministérios com porteira fechada (cofres incluídos), verbas no Orçamento da União, nomeações para cargos público, dinheiro vivo e favores em geral. 3. Quadrilha composta por deputados e senadores.
blecaute. Apagão ocorrido em lugares governados pelo PT. (Verapagão)
blogueiro progressista. 1. Jornalista que jamais conseguiu emprego ou fracassou nos principais órgãos de comunicação e hoje sobrevive na internet alugado ao governo. 2. Gente que vive de escrever mas seria reprovada na prova de português do ENEM mesmo que soubesse antecipadamente as questões escolhidas pelos organizadores. 3. Ex-jornalistas que enriquecem em campanhas difamatórias patrocinadas por corruptos.
Bolívar (Simón). Herói das guerras de libertação da América do Sul que reencarnou no fim do século passado com o nome de Hugo Chávez.
bolivariano. Comunista que finge que não é comunista.
Bolsa Família. Maior programa de compra oficial de votos do mundo.
BNDES. Banco que usa dinheiro dos pagadores de impostos para financiar obras encomendadas pelo governo a empresas privadas que têm patrimônio suficiente para distribuir mesadas de bom tamanho a todos os pagadores de impostos.
C
camarada de armas.  Companheiro diplomado em cursinho de guerrilha que só disparou tiros de festim; guerrilheiro que ainda não descobriu onde fica o gatilho do fuzil. (Ex.: Dilma Rousseff e José Dirceu são camaradas de armas.)
cargo de confiança. 1. Empregão reservado a companheiros do PT ou parceiros da base alugada, que nem precisam perder tempo com concurso para ganhar um tremendo salário sem trabalhar. 2. Boquinha (pop.).
cartão corporativo. Objeto retangular de plástico que permite tungar o dinheiro dos pagadores de impostos sem dar satisfação a ninguém e sem risco de cadeia.
Casa Civil. 1. Conjunto de salas no 4° andar do Palácio do Planalto que, entre 2003 e 2011, foi controlado por casos de polícia que entram sem bater no gabinete presidencial. 2. Esconderijo; tugúrio; catacumba. 3. Sede de quadrilhas formadas por amigos ou parentes do ministro-chefe. 4. Antigo nome da atual Casa Covil, rebatizada em homenagem aos ex-inquilinos José Dirceu, Dilma Russeff, Erenice Guerra e Antonio Palocci.
Comissão da Verdade. 1. Grupo de companheiros escalados para descobrir qualquer coisa que ajude a afastar a suspeita, disseminada por Millôr Fernandes, de que a turma da luta armada não fez uma opção política, mas um investimento. 2. Entidade concebida para apurar  crimes cometidos pelos outros.
companheiro. Qualquer ser vivo ou morto que ajude Lula a ganhar a eleição.
concessão. Entrega ao controle da iniciativa privada de empresas, atividades ou setores administrados até então por governos do PT. (Verprivatização)
conselho de ética. Grupo formado por pessoas que não acham antiético roubar o cofrinho de moedas da filha, tungar a aposentadoria da avó ou vender a mãe.
consultor. 1. Companheiro traficante de influência. (Ex: Antonio Palocci é consultor). 2. Companheiro que facilita negócios escusos envolvendo o governo e capitalistas selvagens. (Ex: José Dirceu é consultor). 3. Companheiro que, enquanto espera um cargo no governo federal, recebe mesadas e indenizações de empresas que favoreceu no emprego antigo ou vai favorecer no emprego novo. (Ex: Fernando Pimentel é consultor)
contrato sem licitação. Assalto aos cofres públicos sem risco de cadeia.
controle social da mídia. Censura exercida por videntes treinados pelo PT para adivinhar o que o povo quer ver, ler ou ouvir. (Verdemocratização da mídia)
convênio. Negociata feita em parceria por um ministério ou estatal e uma ONG de araque ou empresas controladas pelo ministro ou por amigos e parentes do ministro.
Copa do Mundo. Negócio da China.
corrupção. 1. Forma de ladroagem praticada por adversários do governo. 2. Forma de coleta de dinheiro que, praticada por companheiros, deve ser tratada como um meio justificado pelos fins. 3. Hobby preferido dos parceiros da base alugada.
crime comum. Assassinato de um prefeito do PT por motivos político-financeiros, associados a divergências entre integrantes de um esquema de arrecadação de dinheiro sujo. (Ex.: A morte de Celso Daniel foi um crime comum)
Cuba. 1. Ditadura que só obriga o povo a ser feliz de qualquer jeito. 2. Forma de democracia que prende apenas quem discorda do governo.
cueca. Cofre de uso pessoal utilizado no transporte de moeda estrangeira adquirida criminosamente.
D
democratização da mídia. 1. Erradicação da imprensa independente. 2. Entrega do controle dos meios de comunicação a jornalistas companheiros, estatizados ou arrendados. (Ver controle social da mídia)
direita. Categoria em que devem ser enquadrados todos os partidos e indivíduos que não obedecem às ordens de Lula. (Exs: O PSOL é de direita; Hélio Bicudo é de direita)
ditador. Tirano a serviço do imperialismo estadunidense. (Ver líder)
ditadura do proletariado. Forma de democracia tão avançada que dispensa o povo de votar ou dar palpites porque os companheiros dirigentes sabem tudo o que o povo quer.
doutor honoris causa. Diploma conferido a ex-presidentes que nunca leram um livro, não sabem escrever e acham que “honoris” é um Honório com erro de revisão.
E
elite golpista. Balaio socioeconômico que junta todos os bilionários, os ricos, os integrantes da classe média velha ou nova, os pobres e  os miseráveis que não votam no PT.
erro. 1. Crime cometido por companheiros. 2. Caso comprovado de corrupção envolvendo ministros ou altos funcionários do segundo escalão ou de empresas estatais.
espetacularização do nada. Expressão decorada pela Primeira Companheira para ensinar que o que parece um tremendo escândalo é só uma distorção visual decorrente de um tipo de miopia causado por efeitos especiais produzidos pela imprensa.
esquerda. 1. Categoria que abrange todos os que apoiam Lula. 2. Conglomerado que junta em torno do mesmo chefe militantes do PT, antigos servidores da ditadura militar, coronéis de grotão, senhores feudais, capitalistas selvagens, socialistas que só pensam em dinheiro e  órfãos do Muro de Berlim. (Exs: José Dirceu é de esquerdaJosé Sarney é de esquerda)
F
factoide. Fato relevante que, para não deixar o PT ainda pior no retrato, deve ser exibido em tamanho 3 por 4 e em matizes de rosa.
faxina ética. 1. Limpeza simulada para aumentar a sujeira.  2. Truque concebido para convencer o eleitorado de que Dilma Rousseff não conheceu nem de vista gatunos com os quais conviveu durante oito anos. 3. Serviço executado por faxineiras que não conseguem viver sem lixo por perto.
faxineira. Fantasia usada por Dilma Rousseff para fingir que varreu o lixo empurrado para baixo do tapete ou guardado no bolso do avental.
Fernando Henrique Cardoso. 1. Ex-presidente que, embora tivesse ampla maioria no Congresso, fez questão de aprovar a emenda da reeleição com a compra de três votos no Acre só para provocar o PT. 2. Governante que, depois de oito anos no poder, só conseguiu inaugurar a herança maldita.
FHC. 1. Grande Satã; demônio; capeta; anticristo;. satanás; diabo. 2. Assombração que vive aceitando debater com Lula só para impedir que o maior governante de todos os tempos se dedique a ganhar o Nobel da Paz. 3. Sigla que, colocada nas imediações do SuperLula, provoca no herói brasileiro efeitos semelhantes aos observados no Super-Homem perto da kriptonita verde.
financiamento de campanha. Expressão usada por integrantes da quadrilha chefiada por José Dirceu e por testemunhas de defesa em depoimentos na polícia ou na Justiça sobre o escândalo do mensalão.
Foro de São Paulo. 1. Feira internacional que agrupa remanescentes de espécies ideológicas extintas na Europa e em expansão na América Latina. 2. Quermesse destinada a arrecadar fundos para a Irmandade dos Órfãos do Muro de Berlim.
G
governabilidade. 1Graça concedida a governantes que são justos na divisão dos lucros. 2. Palavrão que justifica todas as barganhas bandidas entre o Planalto e a base alugada. 
greve: 1. Forma de luta a serviço dos oprimidos (quando a paralisação prejudica  governos contrários ao PT). 2. Forma de chantagem a serviço dos opressores do povo (quando a paralisação prejudica governos controlados pelo PT)
grupo insurgente. Organização terrorista que se opõe ao imperialismo ianque. (Ex: As Farc são um grupo insurgente)
H
herança malditaConjunto de mudanças ocorridas durante o governo FHC que incluem o Plano Real, a estabilização da moeda, a privatização de estatais em frangalhos, a modernização da telefonia, a Lei de Responsabilidade Fiscal, a consolidação da democracia e a fixação das diretrizes da política econômica que Lula manteve.
I
imprensa popular1. Ajuntamento de meios de comunicação patrocinados por estatais ou empresas beneficiadas por obras públicas, que publicam textos escritos por quem presta vassalagem ao governo e ao PT por vassalagem, idiotia ou dinheiro.
inclusão social. Transferência de pobres para a classe-média sem aumento salarial.
inundação. Desastre natural provocado por chuvas fortes que, embora se repitam em todos os verões desde o século passado, continuam surpreendendo o governo.
IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). 1. Fábrica de brasileiros da nova classe média.  2. Clube de alquimistas especializados na transformação de pobre em ex-pobre sem aumento de salário.
J
justiça socialExpressão que, repetida cinco vezes por dia durante dois anos, induz um catador de lixo a acreditar que a única diferença que o separa de um banqueiro é que um deles dá gorjeta e o outro recebe.
L
líder. Ditador inimigo do imperialismo estadunidense. (Ver ditador)
livro didático do MEC. Inovação educacional que ensina a recitar sem constrangimentos frases como “nós pega os peixe” ou jurar sem hesitação que 10 menos 7 é igual a 4.
M
malfeito. Crime praticado por bandidos de estimação do governo federal ou do PT.
maracutaia. 1. Expressão popularizada por Lula no século passado na discurseira que denunciava o que todos os outros partidos faziam. 2. Expressão abolida por Lula desde que o PT passou a fazer mais e melhor que todos os outros partidos.
marco regulatório. 1. Conjunto de normas, leis e diretrizes que, se não fossem atropeladas pelo governo de meia em meia hora, garantiriam o bom funcionamento de setores nos quais agentes privados prestam serviços de utilidade pública. 2. Balaio de leis que não pegaram.
Mensalão. Maior escândalo que não existiu entre todos os outros ocorridos no Brasil desde o Descobrimento.
mercadante. Gente que revoga até o que considera irrevogável.
meu querido/minha querida. Expressões usadas por Dilma Rousseff quando está conversando em público com jornalistas ou ministros e não pode soltar o palavrão entalado na garganta.
mídia golpista: Imprensa independente.
militância. Rebanho formado por ovelhas tão obedientes que, se o Grande Pastor ordenar, tentará atravessar o despenhadeiro sem ponte.
ministério. 1. Equipe formada por 38 nulidades sob o comando de um neurônio solitários. 2. Prova definitiva de que o Brasil aprendeu a funcionar sem governo.
moralismo udenistaDoença que induz o portador a acreditar que todos são iguais perante a lei, que corrupção é crime e que lugar de ladrão é na cadeia.
MST. 1. Entidade financiada pelo governo para fazer a reforma agrária e levar à falência a agricultura. 2. Movimento formado por lavradores que não têm terra e, por isso mesmo, não sabem plantar nem colher.
N
né?. Corruptela de “não é?” usada pela Primeira Companheira para permitir que o neurônio solitário repouse alguns segundos depois de uma frase sem pé nem cabeça e antes de outra que não tem começo, meio ou fim.
neoliberalismo. Doutrina pessoalmente concebida pelo demônio para disfarçar de novidade o capitalismo selvagem do século 19.
no que se refere. Expressão usada pela Primeira Companheira para avisar que lá vem besteira.
nuncaantesnestepaís. 1. Expressão decorada pelo Primeiro Companheiro para ensinar ao rebanho que o Brasil começou em 1° de janeiro de 2003 e que foi ele quem fez tudo, menos Fernando Henrique Cardoso.
O
Olimpíada de 2016. 1. Versão em escala cósmica dos Jogos Pan-Americanos mais bandalhos da história. 2. Competição esportiva que começa com a conquista da medalha de ouro pela equipe que representa o Brasil na modalidade assaltos orçamentais. 3. Negociata do século. 
ONG. Organização não-governamental sustentada por negociatas governamentais.
ou seja. Expressão usada pelo Primeiro Companheiro para avisar que, como também não entendeu o que acabou de dizer, vai recitar o mesmo mistério com outras palavras.
Orçamento. 1. Montanha de reais extorquidos dos pagadores de impostos que financia a gastança em Brasília. 2. Bolo de dinheiro dividida em fatias desiguais que o governo reparte entre os partidos da base alugada para garantir a governabilidade. (Ver governabilidade)
P
PACMaior concentração de canteiros de obras abandonados do planeta.
palestrante. Disfarce adotado por Lula para ganhar 200 mil dólares de empresários amigos para dizer, em 50 minutos, o que passou oito anos dizendo de graça a cada meia hora.
PIG. Partido da Imprensa Golpista, segundo os blogueiros estatizados agrupados no Partido da Imprensa Governista (PIG).
passaporte diplomático. Documento usado por filhos, netos e agregados do ex-presidente Lula para furar a fila da alfândega e entrar em outros países sem mostrar o que levam na bagagem.
pedra fundamental. Obra do PAC que não será construída mas já foi inaugurada.
PT: Seita que tem uma estrela vermelha como símbolo e Lula como único deus.
petista: 1. Devoto de Lula. 2. Indivíduo convencido de que foi Lula quem criou o Brasil. 
Petrobrás. 1.Estatal fundada para cuidar dos interesses do Brasil na OPEP depois da Descoberta do Petróleo, uma das mais notáveis façanhas de Lula. 2. Empresa que, quanto mais produz, mais dinheiro perde. 3. Buraco negro.
política externa independente. 1. Conjunto de diretrizes concebidas para garantir que o Brasil esteja sempre contra os Estados Unidos e a favor do Irã, de Cuba, da Coreia do Norte e da Venezuela. 2. Escola diplomática onde se aprende a, diante de uma encruzilhada, escolher invariavelmente o caminho errado.
Predo II. Dom Pedro II segundo Lula. (Ver Transposição do São Francisco)
pré-sal. Presente que Lula ganhou de Deus por ter dispensado o Pai de continuar cuidando do Brasil.  
presidenta. Forma de tratamento usada por candidatos a Sabujo do Ano ou companheiros com medo daquele pito que fez José Sérgio Gabrielli cair na choradeira.
presunção de inocência. Figura jurídica usada no Brasil Maravilha para ensinar que todo lulista culpado é inocente.
privatização.  Entrega ao controle da iniciativa privada de empresas, atividades ou setores administrados até então por governos inimigos do PT. (Ver concessão)
R
recursos não-contabilizados. 1. Caixa dois. 2. Dinheiro extorquido sem recibo de donos de empresas que enriquecem com a ajuda do governo, empreiteiros de obras públicas ou publicitários presenteados com contratos sem licitação.
reforma ministerial.  1. Substituição de ministros pilhados em flagrante pela imprensa independente. 2. Substituição de ministros obrigados a deixar o cargo para disputar a próxima eleição. 3. Troca de seis por meia dúzia.
Regime Diferenciado de Contratação (RDC). Malandragem que dispensa de licitações e limitação de gastos todos os contratos envolvendo obras ou serviços supostamente vinculados à Copa da Roubalheira e à Olimpíada da Ladroagem.
revisão de contrato. Reajuste de sobrepreços e propinas.
S
segundo escalão: Cabide de empregos que o governo usa para estimular, saciar ou diminuir a fome e a sede do PMDB.
sindicalista. Companheiro que abandonou o emprego regular no século passado para exercer o lucrativo ofício de pelego.
sindicância interna. Investigação feita por companheiros especializados em absolver por falta de provas.
Sírio-Libanês. Hospital a que recorrem Altos Companheiros com problemas de saúde para que o SUS, que está perto da perfeição, tenha mais vagas para os miseráveis, os pobres e a nova classe média inventada pelo IPEA. (Ver SUS)
SUS. Filial em tamanho gigante do Sírio-Libanês reservada a quem não tem dinheiro para internar-se na matriz. (Ver Sírio-Libanês)
T
taxa de sucesso. Propina embolsada por filhos, parentes e agregados de Erenice Guerra que usavam a influência da chefe da quadrilha e da Casa Covil para permitir que algum empresário malandro continuasse a fechar contratos com o governo sem ter cumprido o combinado em contratos anteriores. (Ex: Israel Guerra subiu na vida não porque é gatuno, mas por colecionar taxas de sucesso)
Transposição do São Francisco. Tapeação multibilionária inventada pelo ex-presidente Lula para ser promovido a Dom Pedro III. (Ver Predo II)
trem-bala. Trem fantasma que partiu da cabeça de Lula e estacionou na cabeça de Dilma Rousseff, onde vai atravessar o século em companhia do neurônio solitário.
U
União Nacional dos Estudantes (UNE). 1. Entidade que representou os universitários brasileiros até ser estatizada em 2003 e transformar-se na União Nacional dos Estudantes Amestrados (UNEA), premiada pela vassalagem ao governo com uma sede nova projetada por Oscar Niemeyer. 2. Balcão de compra e venda de carteirinhas que garantem meia-entrada. 3. Curso de doutorado em maracutaias reservado a futuros ministros do Esporte. 4. Clube recreativo  dirigido por estudantes que demoram 15 anos para concluir um curso que dura cinco.  (VerUNEA)
V
veja bem. Expressão usada pelo Primeiro Companheiro para avisar que vai descrever uma paisagem do Brasil Maravilha que só ele  enxerga.

Augusto Nunes - Veja

Com mensaleiros condenados, PT se reúne para reformar Judiciário


reprodução - web
Ao fim do ano em que os réus do mensalão - políticos de alto calibre, entre eles um poderoso ex-ministro-chefe da Casa Civil, banqueiros e empresários - foram condenados e serão mandados para a cadeia, o PT endurece os ataques ao Judiciário - e não desiste de sua revanche. Há na seara petista propostas para que os mandatos dos juízes do STF passem a ser de quatro anos, renováveis por mais quatro. Além disso, muitos dirigentes do partido pregam o fim da transmissão das sessões do STF pela televisão. A reforma do Judiciário proposta por setores petistas seria apresentada nas últimas reuniões do ano do Diretório Nacional do PT, marcadas para esta sexta e sábado, em Brasília. O governo, contudo, pediu cautela para que o episódio não se transforme em combate institucional. Durante a reunião, o PT vai propor uma campanha de iniciativa popular pela reforma política-eleitoral.

Estadão-Veja

Delator liga Sarney ao esquema dos irmãos Vieira


O presidente do Senado, José Sarney

Presidente do Senado, Sarney nega envolvimento com Paulo Vieira (Antonio Cruz/ABr)
Delator do esquema de venda de pareceres em órgãos federais, o ex-auditor do TCU Cyonil Borges disse que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), teria posto sua influência a favor dos interesses da organização no Tribunal de Contas da União (TCU). Em denúncia enviada ao Ministério Público Federal (MPF), ele relatou que o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira teria conseguido alterar a tramitação de processo em favor da empresa Tecondi após acionar Sarney. O senador nega.
De acordo com o inquérito da Operação Porto Seguro, Vieira fazia lobby no TCU para beneficiar a Tecondi em auditoria que discutia irregularidades em contrato de arrendamento de áreas do Porto de Santos, no litoral paulista. A Polícia Federal sustenta que o ex-diretor ofereceu propina de 300 000 reais para que Cyonil elaborasse parecer favorável à empresa.
Em 2007, o ex-auditor se manifestou contra a permanência da Tecondi no terminal paulista. O processo foi remetido ao gabinete do então relator, Marcos Vinícius Vilaça, hoje aposentado.
Entre 2008 e 2010, Vieira teria operado para que o TCU determinasse nova inspeção pela Secretaria de Controle Externo (Secex), em São Paulo. Com isso, haveria a chance de outro parecer, favorável à empresa, ser elaborado.
Na representação, de 15 de fevereiro de 2011, Cyonil relata conversas com Vieira, nas quais o ex-diretor teria citado o senador. "Paulo Vieira disse que pediria a José Sarney, que indicara, à época, o ministro Vilaça, para reencaminhar o processo à secretaria de São Paulo e, assim, autorizasse a inspeção." Rejeitado pelo Senado, Vieira só foi nomeado para a diretoria da ANA após manobra de Sarney. Ao MPF, o delator contou que o lobby renderia frutos a Vieira, pois os donos da Tecondi o auxiliariam em campanha a deputado federal. 
Estadão-Veja

Mensalão ganha versão ‘Angry Birds’


Julgamento do mensalão, o maior da história do país, ganhou uma versão em game nos moldes do jogo “Angry Birds”, um dos aplicativos mais baixados para dispositivos móveis em 2012.

Disponível gratuitamente nas versões web e para smartphones e tablets com sistema operacional Android (Google), o jogo tem como objetivo derrubar os réus mensaleiros, entre eles o operador do esquema, Marcos Valério de Souza, o ex-presidente do PT José Genoino e o deputado petista João Paulo Cunha.
Os “pássaros” são o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e relator do mensalão, Joaquim Barbosa, e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, responsável pela denúncia. Ao acertar um dos condenados no julgamento, personagens dão lugar às notas de dinheiro.  Caso erre, cinco dos principais protagonistas do escândalo aparecem com as tradicionais ladainhas, como: “Não sabia!” ou “É uma farsa!”. Para atingir a pontuação máxima, é necessário alcançar a 18ª e última fase do jogo e derrotar o principal alvo, o ex-ministro José Dirceu, condenado por chefiar a quadrilha do mensalão.
Maquiavel-Veja

domingo, 16 de dezembro de 2012

O escândalo Rosegate - uma mulher que sabe demais



DUAS DÉCADAS -- Lula pediu a Dilma Rousseff que mantivesse Rose na chefia do escritório da Presidência em São Paulo. Lula e Rose são próximos há quase 20 anos (Fotos: Denise Andrade :: Conteúdo Estadão)
DUAS DÉCADAS -- Lula pediu a Dilma Rousseff que mantivesse Rose na chefia do escritório da Presidência em São Paulo. Lula e Rose são próximos há quase 20 anos (Fotos: Denise Andrade :: Conteúdo Estadão)
Por Otávio CabralLaura Diniz e Rodrigo Rangel, reportagem de capa da edição de VEJA que está nas bancas

UMA MULHER QUE SABE DEMAIS
Quem é e como agia a ex-secretária Rosemary Noronha, cuja intimidade com Lula lhe rendeu prestígio e um cargo central no governo, que ela usava para bisbilhotar o poder, fazer nomeações e ajudar uma quadrilha especializada em vender pareceres falsos e enriquecer empresários trambiqueiros.
Lula, como sempre, não sabe de nada.
Quando passou a faixa presidencial a Dilma Rousseff, em 2011, Luiz Inácio Lula da Silva apresentou à sua sucessora o nome de quatro pessoas que ele não gostaria de ver desamparadas: sua secretária pessoal, o chefe da equipe de segurança, o curador do acervo do Palácio do Planalto (esse a pedido da ex-primeira-dama Marisa Letícia) e Rosemary Nóvoa de Noronha.
Dos quatro, Rosemary era, de longe, quem mais tinha intimidade com o ex-presidente. Ex-bancária e ex-secretária por ele alçada à chefia do gabinete da Presidência da República em São Paulo em 2003, Rose chamava seu benfeitor de “chefe”, mas volta e meia fazia questão de deixar escapar um “Luiz Inácio” diante de colegas e amigos.
Visitas à cabine privativa do Aerolula
Nas 28 viagens internacionais que fez ao seu lado, como integrante da comitiva oficial, o acesso irrestrito ao superior incluía visitas à cabine privativa do Aerolula, de onde – conta um colaborador do governo – ela saía toda prosa. “O chefe agora vai descansar. Não quer ser incomodado.”
Chamada de “madame” pelos muitos desafetos que colecionou ao longo dos dois mandatos de Lula. Rose sempre teve prazer em exibir seu status de protegida do presidente. Em algum momento, decidiu também ganhar dinheiro com ele.
Até onde mostraram as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, não chegou a fazer fortuna. Rose, 57 anos, foi indiciada na Operação Porto Seguro, que terminou com a prisão de seis pessoas. Entre elas, estão os irmãos Paulo e Rubens Vieira, diretores da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) respectivamente — já libertados.
Enriquecendo diretores de agências e empresários trambiqueiros
A julgar pelos e-mails e telefonemas interceptados pela polícia, ambos chegaram ao cargo por influência de Rose, que pediu as nomeações diretamente a Lula. Ao contrário da ex-secretária — mas com a ajuda dela –, os irmãos não só fizeram fortuna como contribuíram para deixar mais ricos um número não conhecido de empresários trambiqueiros.
Por encomenda deles, concluiu a PF, a dupla subornava funcionários públicos para que produzissem pareceres técnicos favoráveis aos seus “negócios”. O papel de Rose era facilitar o acesso dos Vieira a políticos e funcionários de interesse da quadrilha. Para isso, ela invocava frequentemente os nomes de Lula, o “PR” (jargão usado no funcionalismo para se referir ao presidente da República), e de José Dirceu, o “JD”.
Quando conheceu os dois, nos anos 90, Rose era uma morena de cabelos longos e contornos voluptuosos que, trabalhando como bancária, passou a frequentar o sindicato da categoria em São Paulo. Ex-colegas daquele tempo lembram que ela chegou a participar de plenárias e discussões partidárias, mas nunca se destacou como dirigente. Fazia mais sucesso nas festas que aconteciam nas quadras do sindicato, que ficava ao lado da sede nacional do PT, no centro da cidade.
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A afinidade entre a categoria e o partido contribuiu para que ela logo chamasse a atenção dos chefes petistas, como o então deputado José Dirceu, de quem se aproximou. Ele a contratou como secretária logo depois.
Aprofundando a proximidade com Lula
Meses mais tarde, Rose começou a circular em torno de Lula, então candidato derrotado duas vezes em disputas à Presidência. A partir daí, embora oficialmente continuasse a trabalhar para Dirceu, passou a organizar a agenda de Lula e cuidar de suas contas. A proximidade entre os dois se aprofundou ao longo dos anos.
Quando Lula chegou ao poder, criou um escritório para a Presidência da República em São Paulo, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, e Rose foi imediatamente encaixada na lista de funcionários.
Foi ela a responsável pela reforma do escritório e sua decoração, que inclui um grande mural do petista chutando uma bola com a camisa do Corinthians e, sobre os sofás, almofadas revestidas com reproduções de fotos do ex-presidente. Logo após a reforma. Rose foi promovida a chefe do escritório, com salário de 11.000 reais.
Acompanhando Lula em viagens em que Marisa não ia
A partir daí, a ex-secretária ascendeu a um novo patamar. Nas viagens internacionais a que Marisa não ia (contam amigos que a ex-primeira-dama não lhe dirige a palavra e a ignora em eventos públicos), era Rose que acompanhava Lula.
Embora tenha feito 28 viagens com o ex-presidente, seu nome apareceu no Diário Oficial – como é de praxe entre os funcionários de sua categoria DAS – apenas em uma das primeiras, para Havana em 2003. Foi a única da comitiva a se hospedar na mesma ala de Lula. Nas demais vezes, seu nome foi incluído em uma lista de funcionários de segundo escalão que é enviada ao Itamaraty para homologação coletiva – e anônima – no Diário Oficial.
Foi o auge do prestígio de Rose, e ela se esbaldou nele. “Imagine uma pessoa que passou a vida pendurada no cheque especial e. de repente, recebe uma herança de um tio. Essa é a Rose”, descreve um antigo amigo. Frequentemente, convidava-se para almoços com diretores do Banco do Brasil – o gabinete que ela chefiava ficava no mesmo prédio do banco.
MEU CHEFE, MEU ÍDOLO -- o gabinete da Presidência em São Paulo, decorado por Rose com um pôster de Lula e almofadas estampadas com fotos do petista (Foto: Antonio Milena / Milenar)
MEU CHEFE, MEU ÍDOLO -- O gabinete da Presidência em São Paulo, decorado por Rose com um pôster de Lula e almofadas estampadas com fotos do ex-presidente (Foto: Antonio Milena / Milenar)
Almoços de 500 reais
Nessas ocasiões, sempre sugeria restaurantes como o chique, e caro, Fasano. “Pedia camarão ou lagosta. E um vinho “caro”, como gostava de falar. Os almoços nunca saíam por menos de 500 reais”, diz um dirigente. Sabia usar informações que obtinha no escritório, onde também despachavam os ministros em viagem a São Paulo.
Era comum vê-la servindo pessoalmente café e água nas reuniões com a presença de pessoas importantes. Também gostava de comentar sobre quem entrava e saía do prédio, movimentação que acompanhava de sua sala, equipada para monitorar o circuito interno de TV da segurança.
Brigando com gente importante
A sensação de poder foi fazendo com que ela, tida como geniosa, comprasse brigas com gente cada vez mais importante. No início do segundo mandato de Lula, Walfrido Mares Guia, então ministro das Relações Institucionais, comandou uma reunião com empresários no escritório de São Paulo.
No final, pediu que a imprensa entrasse. Rose tentou impedir: “O chefe não gosta de jornalistas por aqui”. Walfrido estrilou: “O chefe hoje aqui sou eu. Podem entrar os jornalistas”. Os dois nunca mais se falaram.
Outro com quem ela brigou foi o governador da Bahia, Jaques Wagner, que patrocinou a indicação de um técnico sem filiação ao PT para a diretoria do Banco do Brasil, quando Rose defendia um petista. Wagner levou a melhor.
Meses depois, ao chegar ao escritório de São Paulo para uma reunião, ele foi interpelado por Rose: “Como você pode jogar contra o PT? Isso é uma traição ao partido”. Wagner colocou-a em seu lugar: “A senhora me respeite, eu sou um governador de Estado”.
Rose continuou próxima de Lula depois que ele deixou o poder. É o que mostram conversas que ela teve com Paulo Vieira sobre a saúde do ex-presidente, que se recuperava do tratamento de câncer na laringe. ” É, eu já falei para ele. Ele tem de parar de se expor em público enquanto aquela perna dele não ficar boa (…) Ele levou um tombo domingo dentro de casa (…) Não sei o que aquela Clara Ant fica fazendo, aquele Paulo Okamotto, que deixam o cara… Ele tá parecendo um velho caquético.”
Clara Ant põe ordem nas atividades profissionais de Lula e Okamotto é seu braço financeiro. Ambos se dedicam em tempo integral a Lula.
Como se utilizava do cargo em seu benefício e de outros
A queda de Rose começou a se desenhar em fevereiro do ano passado, quando Cyonil da Cunha Borges de Faria, à época analista do Tribunal de Contas da União, procurou a PF e o Ministério Publico Federal para dizer que havia recebido de Paulo Vieira uma oferta de 300.000 reais para alterar um parecer em benefício de uma empresa de Santos.
A juíza Adriana Zanetti determinou a quebra dos sigilos de telefone e de e-mails de Paulo e seu irmão – e foi aí que Rose acabou flagrada. Embora não tenha tido o telefone nem a correspondência interceptados, o registro das conversas que manteve com os Vieira nos últimos anos mostrou que usava o cargo de chefe da Presidência em São Paulo para cuidar com desvelo de assuntos de seu próprio interesse.
Em troca dos “favores” que prestava à quadrilha dos Vieira, a ex- secretária fazia toda sorte de exigência: ingressos para camarotes no Carnaval, cruzeiros no litoral paulista, pagamento de uma cirurgia no ouvido e de parcelas de um apartamento financiado.
A miudeza dos pedidos sugere que Rosemary Noronha era uma “petequeira”, como são chamados os corruptos que operam na arraia-miúda. A protegida de Lula no, entanto, mexia com interesses graúdos. Além de indicar ocupantes para cargos de direção em agências reguladoras de cujas decisões dependem negócios bilionários, ela intermediava financiamentos em bancos públicos e facilitava reuniões de empresários com petistas de quatro estrelas para tratar de contratos vultosos no governo.
Lula e Rosemary recepcionam, em 2009, os jogadores Ronaldo e Willian, do Corinthians, time de futebol do ex-presidente (Foto: Antonio Milena / Milenar)
Lula e Rosemary recepcionam, em 2009, os jogadores Ronaldo e Willian, do Corinthians, time de futebol do ex-presidente (Foto: Antonio Milena / Milenar)
Intermediação para empresas
É o caso de um encontro que marcou com Ricardo Flores, então diretor de crédito do Banco do Brasil, para que representantes de uma empresa com atuação no setor portuário pudessem pedir a ampliação do valor de um crédito junto à instituição. A empresa já possuía uma linha de crédito de 85 milhões de reais e pretendia obter mais 48 milhões.
Em outra oportunidade, ainda no governo Lula, ela agendou com um alto dirigente da Secretaria de Comunicação da Presidência da República um encontro para que empresários pudessem propor a locação, para o governo, de placas de publicidade nos portos de Santos e do Rio de Janeiro.
As portas que Rose conseguia abrir graças à intimidade com Lula também serviram para arrumar negócios para sua própria família. A empresa New Talent que a própria Rose ajudou a criar e que foi registrada no nome do genro dela, conseguiu sem licitação um contrato de 1,2 milhão de reais para “prestação de serviços” a uma subsidiária do Banco do Brasil.
Os Vieira tinham consciência da importância de Rose para os negócios, mas, como em toda quadrilha, tentavam reduzir o naco dela na partilha. “Não fale muitas informações sobre os processos da Bahia com a Rose, pois temos que abafar a ‘pedição’ de dinheiro, pois a amiga é uma máquina de gastar”, escreveu Paulo para Rubens ainda em 2009.
Lula, de novo, não se explica
Mesmo quando recebeu a visita da PF em sua casa, na sexta-feira da semana retrasada. Rose manteve a empáfia. Aos policiais, disse: “Vou ligar para o chefe de vocês”. Telefonou para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que estava com o celular desligado. Procurou, então, José Dirceu, que disse nada poder fazer para ajudá-la.
Lula estava num voo, vindo da Índia. Até agora, o padrinho de duas décadas de Rosemary Noronha, indiciada pela PF por corrupção passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica, não veio a público comentar o episódio. Pelo contrário, em discurso feito na semana passada, pareceu desdenhar dele ao dizer que a imprensa “só dá más notícias e esconde as boas”.
Embora o desbaratamento de uma quadrilha que usava de suas prerrogativas públicas para auferir vantagens não possa ser considerado uma má notícia, é compreensível que a revelação do episódio desagrade a Lula. Ao contrário do que ocorre em outros países, no Brasil, a vida privada dos políticos nunca foi considerada assunto de interesse público.
A forma como o ex-presidente distribui o seu afeto, portanto, é uma questão que só diz respeito a ele e seus familiares. A partir do momento, porém, que as consequências dessas escolhas transbordam para a esfera pública, ele não tem outra opção a não ser se explicar, talvez a única modalidade de comunicação na qual Lula não seja um mestre.

O último a saber da operação: o chefe da PF – o ministro da Justiça
(Foto: Ailton de Freitas / Ag. O Globo)
(Foto: Ailton de Freitas / Ag. O Globo)
A presidente Dilma Rousseff soube da Operação Porto Seguro pouco depois das 8 da manhã de sexta-feira por um telefonema de Luís Inácio Adams, advogado-geral da União. Adams havia sido acordado momentos antes por seu número 2, José Weber Holanda, um dos investigados. Dilma pediu para localizar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mas ele não atendia aos telefonemas. Já irritada, a presidente só conseguiu falar com o ministro duas horas depois, quando soube que ele não tinha conhecimento de nada.
A operação pegou Cardozo e o chefe da Polícia Federal, Leandro Daiello, de surpresa Já que foi feita pela superintendência da Polícia Federal de São Paulo, sem comunicação a Brasília. Três dias depois, Cardozo não conseguia dizer à chefe com segurança se havia ou não escutas telefônicas envolvendo Rosemary e o ex-presidente Lula, como chegou a ser noticiado.
Só na manhã de terça-feira o ministro confirmou que não houve quebra de sigilo nas comunicações de Rose. Dilma fez duras criticas à atuação do ministro. Chegou a pensar em demiti-lo – desistiu por temer passara imagem de que não aceita que a PF investigue seu governo.
As superintendências não precisam avisar Brasília em grandes operações
Por mais incômoda que possa ter sido para Lula e para setores do governo, a operação foi conduzida dentro das normas da PF. Uma mudança na estrutura da autarquia feita na gestão de Tarso Genro (2007- 2010) descentralizou as grandes operações. As superintendências regionais ganharam competência para promover ações sem avisar Brasília.
Sob Márcio Thomaz Bastos (2003- 2007), os trabalhos eram centralizados. O então diretor do órgão, Paulo Lacerda, tinha um responsável pela inteligência e um pela atuação. As ações deviam ser autorizadas por um dos dois e sempre saíam de Brasília – o governo era avisado na véspera. De início, a descentralização foi considerada positiva.
Mas ela veio acompanhada de uma restrição orçamentária que praticamente engessou a PF
No governo, a Operação Porto Seguro foi interpretada como um “recado” da PF paulista, que não gosta do gaúcho Daiello (considerado um interventor e criticado pela rigidez com que comandou a superintendência paulista entre 2008 e 2010) nem de Cardozo (que deixou a segurança da Olimpíada e da Copa para as Forças Armadas). Questionado por emissários do governo, o superintendente da PF em São Paulo, Roberto Troncon, negou que a operação tenha tido motivação política.