domingo, 31 de agosto de 2014

No Rio de Janeiro, a Feira de São Cristóvão traz o sabor, o som e as cores do Nordeste

Para quem sai ou entra do Rio de Janeiro pelo elevado da Linha Vermelha, a Feira de São Cristóvão é passagem obrigatória. A enorme massa de concreto, em forma de uma elipse, é facilmente reconhecida, com dois chapéus de vaqueiro nordestino nas extremidades.

Tenho passado de carro dezenas de vezes ao lado do pavilhão e, sempre, um lembrete vibra na minha mente, tal um aviso de celular: “faz tempo que não piso neste pedacinho do Nordeste em terras cariocas, preciso voltar aí.”

O imenso pavilhão, inaugurado em 1962, passou por diferentes fases. Na sua primeira encarnação,possuía um teto refrigerado a água. A péssima manutenção e um temporal perverso fez com que o espaço perdesse a cobertura e o centro de exposições foi desativado. O estacionamento ao redor do pavilhão abrigava, por décadas, uma feira que vendia produtos nordestinos. Em 2003, os feirantes foram convidados a ingressar no espaço sem teto e o mercado informal virou atração.

Na entrada do pavilhão, uma estátua de bronze avisa que Luiz Gonzaga está por toda parte. O Rei do Baião dá nome ao local – Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas – e está presente na música, na literatura de cordel ou para atrair a atenção de qualquer visitante.

© Haroldo Castro | Rio de JaneiroO músico e compositor Luiz Gonzaga, originário do sertão pernambucano, é homenageado na entrada da Feira de São Cristóvão.

© Haroldo Castro | Rio de Janeiro
As lojas da feira estão espalhadas no interior do pavilhão, em pequenos quarteirões; os quatro eixos principais concentram o maior movimento.

O primeiro choque, ao entrar nesse pequeno campo da cultura nordestina, é o nível do áudio. Diversas lojas oferecem músicas sertanejas e todas competem para seduzir o ouvinte. O ambiente de alegria pode se transformar rapidamente em uma cacofonia geral, onde diferentes ritmos invadem os ouvidos pelos quatro pontos cardeais. Para quem oferece qualquer outro produto e precisa conversar e negociar com o freguês, a barulheira atrapalha. “Eu já me acostumei, mas alguns turistas estrangeiros, não acostumados com uma cultura mais ruidosa, acabam passando menos tempo na Feira por causa do som muito alto”, afirma João Luiz, um vendedor de colchas e redes.

© Haroldo Castro | Rio de JaneiroA música nordestina está omnipresente nos autofalantes, nos palcos, nos monitores de TV, nos instrumentos e nos artesanatos.

© Haroldo Castro | Rio de JaneiroUma banca de literatura de cordel oferece uma variedade de folhetos tradicionais, expostos e suspensos em cordas – origem do nome cordel.

A grande maioria dos produtos da Feira está destinada mesmo ao estômago. Como a cozinha nordestina usa produtos peculiares – carne de sol, inhame, farinha de mandioca, queijo coalho etc – é possível para o emigrante instalado no Rio encontrar os produtos que tanto lhe agrada.

Até mesmo para os cariocas, a Feira é a oportunidade para encontrar produtos de consumo diário a um preço inferior aos dos supermercados, como castanhas (tanto do pará como de caju) e queijo coalho.

© Haroldo Castro | Rio de JaneiroVestido a rigor, com chapéu de cangaceiro e facão na cintura, um empregado de um restaurante faz publicidade de seu cardápio tradicional.

© Haroldo Castro | Rio de JaneiroVendedor da Barraca Mandacaru (o mandacaru é a fruta de um cacto) oferece diferentes tipos de queijos coalho e de castanhas a granel.

© Haroldo Castro | Rio de JaneiroUma banca de especiarias oferece pimenta em garrafinha, óleo de dendê e uma coleção de temperos.

© Haroldo Castro | Rio de JaneiroUma menina brinca com balões coloridos em uma avenidas internas do pavilhão.

Embora esteja aberta de terças à quintas, a Feira de São Cristóvão ganha força mesmo durante o fim de semana. Oficialmente o espaço abre na sexta às 10 da manhã e só fecha às 21 horas do domingo. À noite, o espaço ganha novos ares. Para quem quiser dançar forró, a Feira é uma boa opção, do mais alegre ao mais brega! Você vai se sentir (quase) em qualquer capital do Nordeste.

HAROLDO CASTRO
 - ÉPOCA